segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Carta de Amor de um Biólogo
 

   
Você tem uma nomenclatura  muito linda, mas saiba que eu a amaria mesmo que você se chamasse Ergastoplasma... Sabe que quando  a  vejo, minhas mitocôndrias entram em fermentação, a meiose acelera - se  e os meus gâmetas ficam todos assanhados? É verdade porque você tem um fenótipo tão lindo que tenho uma tese de que o seu código genético foi sequenciado por um artista muito inspirado, em plena geração espontânea.
   Quando você surge, em movimentos amibóides, bela, túrgida e charmosa, começo a sentir os efeitos das reações físico-químicas no meu organismo. O seu tropismo em relação a mim afecta o córtex do meu sistema sensorial! Ao tocar na sua celulósica mão, os nossos glicocálix encontram-se. E se os seus olhos, perdidos, semelhantes a ocelos de planária, não se cansam de me fixar, é porque a minha antena está ligada a você. A  sua cetácea presença mexe com as minhas enzimas,  hormonas, neurotransmissores, até a minha cadeia respiratória já não funciona bem , nem mesmo para a coordenação do meu trémulo tríceps. Do meu frontal escorre o que restou de secreção sudorípara. As suas  ferormonas tiram-me realmente da  homeostase. os seus cílios e pillos causam-me flagelos impensáveis. Palpitações sistólicas  rebentam o meu pericárdio.
   Ah, querida, e quando quero repôr as perdas metabólicas e a  levo a uma pastelaria  para posicionar os nossos níveis tróficos, a única gelatina que nos interessa é aquela biomassa saborosa a que chamamos  meio de cultura!
  Mas apesar da nossa relação harmónica em franca evolução, ultimamente você está num estado de isolamento do que foi a nossa protoplasmática simbiose.  Sabe, se você continuar tratando-me com tanto acaso, vou me sentir menos que um insecto, um verme! Você dá mais atenção às suas amigas, aquela tal de Drosóphila, à Taenia, a quem, por sinal, nunca fui apresentado, do que a mim... E quem é esse tal de Rhesus, hein? Ah meu Deus! Será que estou com complexo de Golgi? Devo estar entrando naquele ciclo maldito - o ciclo de Krebs... e se esse processo selectivo continuar sou capaz de cometer uma loucura, uma apoptose.
   Por favor, não me trate assim de forma virulenta, feito uma amiba ou um "Cavia porcellus porcellus", pois a estes sei que você dedica apenas olhares científicos e sem paixão. Eu não sou uma cobaia de laboratório. Eu não bacilo nem quando fico como um vibrião colérico. Espero que você deduza que o meu sonho é passear abraçadinho consigo igual a um carrapato, num lindo dia de sol, em Galápagos, dizendo para mim mesmo: Cromossomos felizes!"

Fonte:http://www.angelfire.com/un/esmm_biologia/biologo2.htm#tres

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